Por: Otto Nogami*
A inflação é considerada como um aumento generalizado dos preços da economia, “pois os aumentos dos preços não ocorrem apenas sobre um pequeno conjunto de preços ou sobre um setor específico da economia”. Mais especificamente, ela representa a variação de preços que se observa na estrutura de consumo das famílias num determinado período de tempo. E essa estrutura de consumo é que faz as pessoas se sentirem mais ou menos satisfeitas, ou realizadas, no atendimento de suas necessidades e desejos do seu dia-a-dia.
À medida que os salários das pessoas se mantêm constantes durante um determinado período de tempo, normalmente um ano, a elevação dos preços dos bens e serviços consumidos por essas pessoas faz com que, ao longo desse período, o poder de compra do salário se deteriore, ficando cada vez mais reduzido até a chegada do novo reajuste. Os proprietários de imóveis alugados também são prejudicados, apesar de em processos inflacionários os imóveis tendem a se valorizar, normalmente mais que a inflação. Por outro lado, aqueles que têm renda livre são favorecidos pelo processo inflacionário.
Explicando numericamente. Suponhamos que o salário, hoje, seja de R$ 2.000 por mês, e que os preços dos produtos que costumamos comprar aumentem em 0,5% no mês. Isto significa que no mês seguinte, como a renda se mantêm inalterada, nós compraremos menos produtos, pois o poder de compra de nosso salário não é mais de R$ 2.000, mas sim de R$ 1.990, e assim por diante à medida que o fenômeno chamado inflação persistir ao longo dos meses. Com uma nesse patamar mensal, ao longo de um ano teremos uma inflação acumulada de 6,17%, o que implica num poder de compra de R$ 1.876,60.
Pela ótica do bem estar da sociedade, a preocupação maior do governo é manter a capacidade de consumir das famílias estáveis ao longo do tempo. É nesse sentido que os reajustes salariais são importantes, pois eles permitem a recuperação do poder de compra perdido ao longo de um período, normalmente um ano. Melhor ainda quando os reajustes salariais são maiores que a inflação, pois aí se tem um ganho real e o poder de compra será maior. Historicamente, o imperador Diocleciano (244 – 311) promulgou em 301 o Edito Maximo (decreto) que punia com morte os mercadores que praticassem preços acima dos fixados.
A inflação é medida calculando-se a variação de preços verificada em uma estrutura de consumo padrão de famílias que percebem um determinado nível de renda em um município ou um conjunto de municípios. Por exemplo, o IPCA – índice de Preços ao Consumidor Amplo, que é produzido pelo IBGE, mede a variação de preços nos dispêndios das pessoas que ganham de um a 40 salários mínimos em 11 regiões metropolitanas do país. A FIPE, por sua vez, calcula mensalmente o IPC – Índice de Preços ao Consumidor, que reflete o custo de vida de famílias com renda de um a 20 salários mínimos no município de São Paulo.
Isto significa dizer que a inflação não necessariamente reflete a variação de preços ocorrida em nossa cesta de consumo, individualmente dizendo. Em outras palavras, podemos dizer que à medida que os preços dos gêneros de primeira necessidade aumentam mais que os preços dos produtos supérfluos, a tendência é que as pessoas com rendas mais baixas sejam os maiores prejudicados. Daí a preocupação de alguns governos em fixar preços máximos de comercialização, justamente para que eles não afetem o poder de compra das famílias menos privilegiadas.
Outro aspecto a ser salientado é que uma inflação, crescente e persistente ao longo do tempo, acaba fazendo com que as pessoas percam a noção de preços relativos, ou seja, a capacidade de comparar preços, o que dificulta a tomada de decisão para consumir bens e serviços, bem como prejudica a elaboração e o controle do orçamento familiar. Além do efeito sobre a distribuição da renda, o problema inflacionário afeta também a alocação de recursos, à medida que modifica o perfil de investimentos dos agentes econômicos, podendo trazer sérias implicações de cunho social.
*Otto Nogami é mestre em economia e professor de economia do Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG) e do Insper.
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