Folha.com, Flávia Marreiro, de Caracas
A crise com a vizinha Colômbia, o impulso da versão venezuelana do "Minha Casa, Minha Vida" e a reclamação de empresários brasileiros por falta de pagamento da Venezuela estão na agenda do que pode ser a última visita a Caracas de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente.
A chegada de Lula está prevista para essa manhã, e no começo da tarde ele tem reunião fechada com o colega Hugo Chávez. É a 10º reunião trimestral dos dois desde 2007, quando foi criado o mecanismo.
Desde meados de 2008 a agenda dos presidentes inclui um tema: o apelo dos empresários brasileiros para que se acelerem os pagamentos das dívidas do governo, e também de compradores privados do país.
Nesta semana, os dois países lançaram a Comissão de Monitoramento do Comércio Brasil-Venezuela para "remover entraves burocráticos e técnicos" no setor.
O nó, porém, continua sendo o férreo controle de câmbio venezuelano.
"Posso dizer que a situação é melhor do que a havia no primeiro trimestre de 2009. Mas com isso não quero dizer que deixar de pagar ao menos uma empresa está bem", disse em Caracas José Francisco Marcondes, da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria Venezuela-Brasil.
Com US$ 1,7 bilhão em produtos exportados à Venezuela no primeiro semestre, o Brasil é um dos principais fornecedores de alimentos do país, e o primeiro em compras exclusivamente estatais.
A Venezuela atravessa o segundo ano consecutivo de recessão e o governo, com menos dinheiro em caixa, apertou ainda mais o controle de câmbio como tentativa de segurar a inflação, a maior do continente, e a fuga de capitais.
As divisas nas taxas oficias -- 2,6 bolívares fortes por dólar para comida e e 4,3 bolívares fortes por dólar nos demais item -- saem a conta gotas do Cadivi ( Comissão de Administração de Divisas), cuja fila tem alto componente político, daí a importância da conversa direta entre os presidentes.
"Os empresários brasileiros também foram afetados pelo fechamento do mercado paralelo de dólar. Até entendo os motivos porque se faz controle de câmbio, mas isso sempre cria dificuldades", continua Marcondes.
Em maio, Chávez ordenou o fechamento do único sistema de câmbio flutuante que funcionava no país, de onde partiam as divisas que financiavam entre 40% e 60% das importações.
Foi quando o bolívar forte -- chamado assim após a desvalorização da moeda em janeiro -- chegou a seu nível mais baixo: 8 bfs por cada dólar.
Em substituição, o governo criou um sistema de bandas para a divisa, mas que na prática funciona como um terceiro câmbio (5,3 bfs/dólar),mais restrito e que impulsou o crescimento do mercado negro.
Há rumores de que o governo estuda abrir mais uma vez o mercado paralelo, enquanto a consultoria Ecoanalítica, uma das mais respeitadas do país, e agências de risco estrangeiras não descartam que Chávez tenha de recorrer mais uma vez à desvalorização -- um ciclo bem conhecido pela Venezuela desde os anos 80. Isso só ocorreria, porém, após as cruciais eleições legislativas, estimam os analistas.
CAIXA E KIRCHNER
Lula e Chávez devem assinar cerca de 20 acordos, e uma das estrelas do grupo, já anunciado pelo venezuelano em aparições na TV, é o aprofundamento da parceria com a Caixa Econômica Federal com os novos bancos estatais para bancarização popular.
O primeiro posto de banco popular vai ser inaugurado em Vega, região pobre no centro da capital, sob gestão chavista.
É também com a Caixa que Caracas pretende ter a expertise para o "Minha Casa, Minha Vida" venezuelano _a habitação é uma das áreas de pior performance de Chávez.
Por fim, Lula anunciou que pretende por na mesa a crise do país anfitrião com a Colômbia. O encontro acontece menos de uma semana depois de Caracas e Bogotá não terem chegado a um acordo sobre o plano de contenção do conflito proposto pelo Brasil na Unasul (União das Nações Sul Americanas).
Bogotá acusou a Caracas de fazer naufragar o encontro.
Ontem, chegou a Caracas o secretário-geral da instância, Néstor Kichner, que tenta se apresentar como mediador da questão. Em suas primeiras palavras, fez um emotivo discurso de "permanente agradecimento" a Chávez.
Por fim, o presidente brasileiro termina o dia com o outro protagonista da crise: vai ao jantar de despedida do colega Álvaro Uribe em Bogotá. Amanhã Juan Manuel Santos assume a Presidência do país.
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